PRESSÃO

Todos estavam concentrados em seus trabalhos, cada um com sua meta, prazo e preocupações.

E ela estava lá, digitando tão rápido como um raio! Seu rosto foi ficando vermelho, vermelho, deu um soco na mesa e gritou.

“Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!”

 Os vidros do andar trincaram. Todos. Não sobrou um só vidro pra contar história.

 As pessoas se entreolharam, e depois olharam pra ela. Silêncio.

Ela levantou, se arrumou, ergueu apenas uma sobrancelha e falou:

“Boa noite!”

E foi embora.

Análise

Sou meio louca, não gosto da normalidade. As vezes sou espalhafatosa, fico animada, tenho muitas idéias, falo rápido, as vezes alto, quero falar montes, fazer muitas coisas, ouvir todas as músicas lindas do mundo, tudo ao mesmo tempo. As vezes fico triste de ser assim, podia ser mais discreta, mais serena, mais na minha. Mas aí não seria eu. Não consigo. Já tentei. Sou festeira, gosto de agito, gosto de gente, gosto de conversar, de dançar até sentir cãimbras, de falar bobagens, de rir muito. Mas também gosto de ficar em casa quietinha assistindo filmes, jogar buraco na internet ou ler um livro de terror. Fico feliz de fazer coisas do dia a dia: trabalho, academia, inglês, aula de dança. Gosto mesmo.

As vezes sou dramática, choro, quero atenção, sinto ciúme, inveja, raiva. Mas na maioria das vezes sou alegre, tenho esperança e acho que tudo vai dar certo. Não gosto de coisas atropeladas, não gosto de quem coloca a carroça na frente dos bois. Sou uma pessoa que planeja. Planeja até demais. E por isso as vezes me decepciono. Mas dura pouco, fico triste, mas depois sigo em frente.

Sou fiel aos meus amigos. Podem me magoar algumas vezes, mas sempre os amo, não importa o que aconteça.

Sou imperfeita. Muito. Mas sendo assim sei que sou única. E fico triste quando querem me mudar, que não me aceitem assim como sou.

Sou sincera, transparente, não consigo esconder meus sentimentos. Falo tudo e quando não falo meu rosto fala. Então não há como esconder.

Sou palhaça, as vezes acho que a vida é Stand Up Comedy. E mesmo quando estou triste ou quando vejo como o mundo está todo ferrado, mesmo assim consigo ver comédia. Mesmo que seja ironia... Tento fazer o bem, tento ajudar os outros, do meu jeito. Odeio ver sofrimento, de gente, de bicho. Fico mal e quero abraçar o mundo.

Ando pensando muito em tudo, como a vida passa rápido, como as coisas acontecem, como vamos vivendo aos trancos e barrancos. Mas vamos vivendo, alguns melhores que outros. As pessoas têm anseios, vivem esperando algo que nunca vai acontecer, depositam suas esperanças em um futuro que talvez nunca chegue. Percebi com o passar do tempo que a felicidade é agora. É o dia a dia, é a amizade, é o dia ensolarado, é a lua cheia, o gato se espreguiçando, a música que você mais gosta tocando. Coisas simples.

Sou assim: esse turbilhão de pensamentos e sentimentos. Posso melhorar algumas coisas, mas a essência é imutável.

OS 3 CÃES

Este final de semana participei de um voluntariado em uma ONG de cães abandonados.

Dentre as diversas coisas que os voluntários podiam fazer uma delas era levar o cachorro pra passear. E como o passeio é somente uma vez por mês, imagina a felicidade deles. Mas havia 3 cães que não gostavam de passear, até tentamos convencê-los, chamando, assobiando, jogando biscoitinhos, mas eles eram muito medrosos e ficaram escondidos dentro de suas casinhas.

Sofreram tanto que optaram em perder a chance de um momento de prazer pelo medo de sofrer de novo.

Me identifiquei com aqueles cães.

As vezes tenho tanto medo de sofrer de novo que prefiro desistir de uma pessoa especial, a ter que sofrer de novo. O problema que ao desistir perco a oportunidade de ser feliz. Porque talvez o sofrimento seja necessário para encontrar a felicidade.

Vida-sonho.

Minha vida parece um sonho. Tenho a impressão que não vivi, pois quando acordo lembro somente de fragmentos do meu passado.

Minha vida se resume ao presente. Um dia, apenas.

Os rostos que passaram pela minha vida se tornaram um borrão, e não sei identificar o que é vida real e o que é sonho. Será que imaginei? Será que realmente aconteceu?

Gosto de algumas lembranças mesmo sem saber se aconteceram ou não. E existem as coisas que quero apagar da minha memória e não consigo, não consigo. Mesmo que tenha sido sonho, me incomodam, ficam me cutucando, não me deixam viver meu único dia sem a sensação de incômodo, sempre estou com a sensação que algo não deu certo...

E sempre acordo com esperança, que o dia será melhor. O problema que não consigo fazer diferente. Quero viver, fazer coisas boas, aproveitar tudo de bom que a vida me oferece, mas fico paralisada. E a única coisa que consigo fazer é repetir.

Minha vida é a repetição do mesmo sonho. E assim será até o dia da minha morte, se é que já não estou morta...

Adios Nonino

Gosto da poltrona 13. Sempre compro o lugar 13, mas dessa vez só tinha o 22. Do meu lado tinha uma senhora fazendo tricot, parecia uma aranha tricotando sua teia. Ela puxava a lã com força e eu ficava esperando ela me acertar o braço, mas ela era boa. Não acertou nenhuma vez. Tricota e puxa, tricota e puxa. Dona Aranha e sua teia gigante.

Estou voltando, mais um retorno dentre tantos retornos. Triste e contente. Triste por mais uma vez ter o coração machucado, feliz por voltar à minha antiga rotina.

Eu devia ter explicado o que me incomodou. Porque fugi daquele jeito. Mas conversas não são o meu forte. Prefiro fugir a ouvir a verdade. Porque só ouvi a verdade uma vez e doeu como nunca. Mas ações falam mais que palavras, e entendi o recado. Queria que fosse amor, mas não é. É amizade, é bem querer, é não querer perder.

Mas sempre tem um remédio. Aprendi com minha mãe. Tristeza é tango, felicidade é salsa. Então ponho minha seleção de 62 músicas do Piazzola, e vou chorar durante essas 62 músicas. Depois disso vou seguir minha vida, sem olhar pra trás. E logo mais minha trilha sonora será salsa.

Só não me matei até hoje porque existe a música...