segunda-feira, 13 de abril de 2015

Tristeza não tem fim, felicidade sim

Quando ouvimos a música ‘Felicidade’ do Vinícius de Moraes e Tom Jobim, o refrão “tristeza não tem fim, felicidade sim” penetra em nossas mentes, e fica lá por dias como se fosse um mantra, e isso vai nos causando um certo desconforto. Ninguém quer ficar triste, fugimos disso, queremos que a felicidade em nossas vidas seja duradoura, seja eterna. Conseguimos o emprego dos nossos sonhos? Começamos a namorar com a pessoa que nos apaixonamos? Compramos o carro do ano? Ficamos muito felizes com essas conquistas, mas junto com a conquista vem o medo da perda. E assim vivemos angustiados, nunca nos sentimos em paz. E estamos sempre oscilando entre felicidade extrema e tristeza.

A verdade é que iremos sim perder coisas e pessoas importantes na nossa vida. Acontecerão tragédias, perderemos nossos pais, parentes, amigos, até mesmo filhos, nossa juventude, nossa beleza, nossa saúde, perderemos até mesmo nossa identidade, pois o que sou agora, não serei mais daqui um tempo. Mudaremos de emprego, de parceiro, de cidade ou país, por nossa vontade ou não. E como devemos nos preparar para isso?

Não devemos nos sentir paralisados, sempre esperando o pior. Precisamos não dar tanto peso às coisas boas e ruins. Sabendo que a felicidade (do jeito que a entendemos) é fugaz, devemos buscar o equilíbrio. E o que é o equilíbrio? Equilíbrio é sentir paz. Paz consigo e paz em relação ao mundo.

Estou lendo um livro muito bacana chamado “Transforme sua vida” do mestre budista Geshe Kelsang Gyatso que fala que se nossa mente estiver pacífica, livre de aflições, seremos plenamente felizes. Uma mente pacífica é uma mente livre de preocupações, medo, raiva, apego, inveja.  Com a mente pacífica, conseguimos superar os maus momentos da nossa vida, e não veremos os problemas como problemas e sim como oportunidades de crescimento, e os aceitaremos com tranquilidade e gratidão, mesmo em momentos difíceis e trágicos. Isso não significa que a dor seja menor, por exemplo, uma mãe que perde um filho, sente uma dor indescritível, e ela sempre terá a dor guardada no seu peito, mesmo depois de anos, mas o que ela fará com sua vida depois da perda é que será ou não uma evolução. Ela terá duas alternativas, ou parar a sua vida e se afundar na tristeza ou seguir em frente e usar a tragédia para beneficiar pessoas, por exemplo, se dedicar aos seus outros filhos ou criar um grupo de apoio para mães que também perderam filhos. Lógico que isso não é fácil, não é uma coisa que se consiga do dia para noite, muitas vezes é difícil olhar nossas tragédias e problemas com bons olhos. A vida moderna é naturalmente caótica, corrida, bagunçada. E na grande maioria das vezes consideramos a paz uma chatice, queremos informação, prazer, balada, viagem, conversa, desafio, movimento, porém estamos sempre sofrendo, correndo contra o tempo, nos sentindo vítimas, estamos sempre irritados, angustiados, queremos muito algo, logo depois não queremos mais, nos entediamos com frequência, queremos soluções rápidas, nos entupimos de drogas: para dormir, para sorrir, para se exercitar, para acordar, para anestesiar.

Porém é importante entendermos que o caos não é o melhor para gente, necessitamos de silêncio para encontrarmos a paz. A meditação é uma excelente maneira de encontrar a paz, no começo é difícil, o corpo reluta, os pensamentos lotam e perturbam a mente, mas quando se consegue esvaziá-la, mesmo que por um só minuto, é gratificante, e conseguimos entender a importância da paz. E quando nos sentindo em paz, conseguimos ser mais tolerantes, pacientes, amorosos e bondosos. Conseguimos nos colocar no lugar do outro e inclusive amá-lo com todos os seus defeitos, sem esperar nada em troca. É um exercício diário, porém chega um momento que percebemos que a paz e a bondade nos garantem a felicidade plena. Lógico que ser bom, não significa ser bobo, deixar as pessoas serem injustas ou se aproveitarem da sua bondade, significa resolver as situações com serenidade, praticar a justiça sem agressividade, tentar entender os motivos da outra pessoa.  

Esses dias mesmo, o sinal ficou vermelho para os carros, e lá fui eu atravessar a rua, e tinha um motoqueiro que ao me ver atravessando, começou a acelerar a moto, lógico que me assustei, dei um salto ridículo, tropecei e quase caí no meio da rua e ele rolou de rir. Pensei: “Mas que espírito de porco!” e fiquei com vontade de mandá-lo para aquele lugar, logo em seguida me coloquei no lugar dele, e pensei que não sabia nada sobre ele, como é a vida dele, como ele foi educado, não sei o que ele sofreu. Ele também quer ser feliz e provavelmente está procurando a felicidade nos lugares errados, pode ser até mesmo que para ele a felicidade está em me ver tropeçar e cair de cara no asfalto. Então mandei um pensamento para ele: “Que você encontre a felicidade verdadeira e duradoura”. Senti um alívio, talvez se tivesse mandado ele para aquele lugar tivesse me dado um alívio imediato, mas tenho certeza que ficaria o dia todo incomodada. Então decidi não levar aquilo comigo. Foi bom, me senti feliz. Sei que terão dias que não conseguirei me controlar e chutarei o pau da barraca, mandarei alguém que me incomodou para aquele lugar e sairei pisando duro. O processo de evolução é lento, só não podemos desistir, nem nos cobrar demais. O importante é a busca contínua pela paz e bondade, dia após dia, tenho certeza que o esforço valerá a pena.

E o que desejo hoje para você? Que encontre a felicidade verdadeira e duradoura! 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O que você quer da vida?

Ontem conheci uma pessoa especial.

Algumas pessoas passam por nossa vida sem causar nada, outras surgem para nos marcar de algum modo. Algumas pessoas nos marcam de modo negativo, deixam cicatrizes, que as vezes demoram para cicatrizar, outras nos marcam de modo positivo e nos transformam em pessoas melhores. Ontem conheci uma pessoa que me afetou, me fez refletir e tenho certeza que ela ainda afetará muito a minha vida. Uma rara pessoa que me enxergou, enxergou de verdade, não foi aquela coisa de fazer social, de me perguntar se está tudo bem e depois olhar para o relógio, celular ou me interromper por algum motivo idiota. Ela realmente se interessou por mim, me viu, posso até dizer que ela enxergou a minha alma. Me encarou com seus olhos azuis e me perguntou: “O que VOCÊ quer da vida?”. E dentre as diversas coisas que conversamos, essa pergunta, em especial, ficou martelando na minha cabeça. 

Tenho sido levada pelas ondas da vida, vou pra cá ou pra lá, dependendo do que a vida me oferece. Acho que a grande maioria das pessoas é assim. A gente vai se adaptando, se moldando, as vezes até em função de outra pessoa, nossa vida começa a ser moldada a partir do que os nossos pais (ou quem nos criou) desejam pra gente, e em algumas vezes aceitamos o que eles desejam pra gente, ou nos rebelamos sobre as vontades deles, mas nossas decisões foram tomadas sobre o querer dos nossos pais (a favor ou contra). Depois vamos escolhendo o que dá para escolher, decidimos nossa carreira, mas sempre com uma ponta de dúvida, sempre nos questionando se fizemos a escolha certa, sempre achando que se tivéssemos escolhido o outro caminho tudo seria melhor, ou não. Escolhemos nossos amigos ou alguém para nos relacionar amorosamente, geralmente escolhido por amor, paixão, bem querer, afinidade e em muitas vezes somos correspondidos, em outras vezes não. E as decisões daí pra frente são em decorrência do que aconteceu, quase um fluxograma: se foi correspondido, começa um namoro, vai morar junto, casa, tem filhos, fica junto até ficar velhinho ou separa, arruma outro? Se não foi correspondido, opta em ficar sozinho, arruma outro? E como tudo isso te afeta? Você sente que evolui? Fica estagnado? Se sente vítima? Culpado? Errado? Muda? Espera alguém te salvar?

E tem as coisas que não podemos escolher, que sempre são muitas, simplesmente caem no nosso colo, e não temos muito o que fazer a não ser aceitá-las e decidir se seremos felizes ou infelizes com isso. E assim vamos definindo a nossa vida. Mas se pudéssemos escolher, sem depender do destino ou da vontade dos outros, o que decidiríamos? O que desejaríamos fazer? Como gostaríamos de ser?

Essa é a grande questão da vida: o que VOCÊ quer dela?

quarta-feira, 4 de março de 2015

Por que detesto o filme “As Pontes de Madison”

*Contém Spoiler sobre o filme.

Quando me apresentaram o filme “As Pontes de Madison”, me disseram que era uma das maiores histórias de amor já vistas no cinema. Assisti e fiquei com a sensação que aquilo não era bem amor e sim uma ilusão.

O filme é sobre uma dona de casa que vive em função da família: marido e filhos, lá em uma cidade do interior dos Estados Unidos. Um dia o marido viaja com os filhos e a dona de casa conhece um fotógrafo que estava de passagem e vivem quatro dias de paixão. Aqui é importante ressaltar que são quatro dias de PAIXÃO (não amor como vende o filme). Depois de anos os filhos dessa dona de casa encontram cartas dela contando sobre este relacionamento com o fotógrafo que os fazem questionar os próprios casamentos.

Essa história não é sobre amor e sim sobre paixão, sabe por que? Porque é fácil gostar de alguém que você mal conhece, quando você se apaixona, você enxerga a pessoa do jeito que quer enxergar, ela é a pessoa mais interessante do mundo, a mais sexy, o jeito que ela mexe no cabelo é único, ela te faz se sentir feliz, único e especial. É só ela chegar perto que você sente seu coração acelerar e ele se aquece, você quer ficar abraçado dias e dias sem soltar, você fica disposto e corado, se sente mais bonito e mais corajoso, pronto para enfrentar o que vier. Você se imagina envelhecendo ao lado da pessoa e faz mil promessas, e acredita que aguentará tudo, mesmo quando a pessoa estiver roncando ao seu lado, o ronco dela será uma bela sonata para os seus ouvidos. E logo que conhecemos uma pessoa mostramos nosso melhor lado: serenidade, sorrisos, beleza, alegria, conversas legais sobre a vida, sobre filmes, sobre livros. Não ficamos mal humorados, não ficamos chatos, não falamos sobre as contas que temos que pagar, sobre quem vai levar o filho para a escola, etc.

Quatro dias são poucos dias pra você aprofundar um relacionamento, e por isso que tanto a dona de casa quanto o fotógrafo ficaram com a sensação de que um era o amor da vida do outro, porque viveram quatro dias de paixão, de ilusão, de relação superficial, sem um conhecer o outro verdadeiramente e como o relacionamento não foi para frente por motivos de força maior, eles ficaram com a sensação de que foi O relacionamento. Será que se eles tivessem se conhecido antes dela ser casada e ter filhos (e por isso que ela optou em não ficar com ele) e tivessem casado e tido filhos, eles continuariam com essa sensação de que um era o amor da vida do outro?

Estou lendo um livro chamado “Amor Líquido – Sobre a fragilidade dos laços humanos” do Zygmunt Bauman, que fala sobre a nossa geração que quer ser feliz a qualquer custo e de forma rápida, adquirindo produtos para tentar satisfazer essa necessidade de prazer imediato. Os relacionamentos se tornaram bens de consumo. Segundo Bauman, amor líquido é um amor “até segundo aviso”, o amor a partir do padrão dos bens de consumo: mantenha-os enquanto eles te trouxerem satisfação e os substitua por outros que prometem ainda mais satisfação. O amor com um espectro de eliminação imediata e, assim, também de ansiedade permanente, pairando acima dele. Na sua forma “líquida”, o amor tenta substituir a qualidade por quantidade — mas isso nunca pode ser feito, como seus praticantes mais cedo ou mais tarde acabam percebendo. É bom lembrar que o amor não é um “objeto encontrado”, mas um produto de um longo e muitas vezes difícil esforço e de boa vontade.

Esses dias li um texto, desses textos legais sobre a vida que sempre aparecem no site obvious ou no Sobre a Vida, que falava que queremos viver romances como nos filmes, porém os filmes românticos só mostram o início do relacionamento, geralmente um casal que se conhece, tem uns problemas no percurso, ficamos torcendo para eles ficarem juntos e quando eles finalmente ficam juntos o filme acaba. E o que acontece com aquele casal apaixonado? Observem que os filmes que mostram casais juntos por muito tempo são classificados como drama...

Um filme que gosto muito é o “Antes da Meia Noite” que é o último da trilogia  “Antes do Amanhecer” e “Antes do Pôr-do-Sol” que mostra como estão Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy) depois de casados. Esse sim é um filme sobre amor. (Spoiler) Porque mostra que apesar deles terem se apaixonado e por terem se separado de forma antecipada, ficaram com aquele gostinho de ‘quero mais’ e a sensação de que um era o amor da vida do outro (no Antes do Amanhecer), e nos filmes seguintes eles se reencontram e ficam juntos e formam uma família, e o último filme mostra o casal não tão apaixonado quando se conheceram, porém finalmente se amando, ou seja, mesmo conhecendo o pior lado do outro, ambos se esforçam para manter e transcender o relacionamento.

Não acho que devemos ficar em relacionamentos ruins, porém não podemos nos iludir que os relacionamentos serão só flores, os momentos difíceis irão acontecer, depois de anos juntos, em alguns dias você irá se apaixonar novamente pela pessoa que está com você, em outros você a achará insuportável, em alguns dias você irá querer largar tudo, em outros você terá a plena certeza de que vale a pena regar aquela plantinha chamada “relacionamento”. E é por isso que odeio o filme “As pontes de Madison” porque ele nos vende que o verdadeiro amor só acontece quando estamos apaixonados e isso é uma mentira, o verdadeiro amor acontece na convivência, no dia a dia, na superação dos obstáculos, nos pequenos sacrifícios pelo outro, no amar sem esperar nada, no entender o parceiro mesmo quando ele está insuportável, chato, melancólico, com medo ou surtado. As pessoas são assim: imperfeitas. E o amor está em compreender estas imperfeições e amar a pessoa mesmo assim.

P.S. Algumas pessoas se irritaram comigo por eu ter falado que não gostei do filme "As Pontes de Madison". Gente essa é uma opinião PESSOAL. Não fiquem ofendidas. Gosto cada um tem o seu. Essa foi minha percepção sobre o filme, uma pessoa disse que eu não entendi o filme, que na verdade é uma história de abdicação e sacrifício. Concordo sim com isso, pois a dona de casa não largou sua família para ir atrás do fotógrafo, isso é um ato de amor à família. A única coisa que discordo é ela ter achado que aquela paixão que viveu em 4 dias era o amor da sua vida, esse é o meu ponto. Ela vivenciou ótimas sensações, se apaixonou, talvez se ela tivesse ficado com ele poderia dizer que realmente era o amor da vida dela, mas não dá pra saber...