quinta-feira, 18 de abril de 2013

Reflexões de um dia qualquer de outono

Mais um dia, mais uma manhã, mais uma vez sou surpreendida com a beleza de uma música esquecida em minha  pasta de músicas. Meu sorriso se alarga, fico com os olhos fechados, saboreando e  aproveitando cada sensação que a música me proporciona. A beleza nunca é demais, se renova, quando acha que se acostumou, ela volta e te encanta novamente.

Ontem estava tentando lembrar diversos momentos da minha vida e fiquei com o coração partido de perceber que havia me esquecido de muitos. Fiquei pensando que as pessoas deveriam escrever diários de suas vidas, porque tenho certeza que ao lerem, depois de alguns anos, teriam a certeza que viveram poesia.

A vida passa, o dia é hoje. Converso com Deus. Não tenho controle. As vezes sinto medo, angústia. Em outras vezes sinto paz e são nesses momentos que me sinto plena e feliz. Leio as notícias do dia, leio as tragédias, maldades, acidentes, calamidades. Me ponho no lugar das pessoas e imagino como elas estão se sentindo, meu coração se entristece, mesmo assim tenho esperança. A vida é acaso. É atravessar uma rua, é pegar o ônibus, é decidir voltar, é mudar o caminho.

Mas a vida não é só tristeza, no meio do caos há a esperança, bondade, gente que ajuda, gente que transforma. Tenho vontade de abraçá-las, protegê-las de qualquer mal que o mundo tenha reservado para elas. Detesto o sofrimento. Mas mesmo detestando o sofrimento, as vezes me sinto paralisada diante do sofrimento. O medo as vezes me impede de agir. Vi o homem, magro, esfomeado, revirando o lixo, a rua estava escura, estava sozinha. Olhei para ele, espalhando o lixo pelo chão, quis pegar dinheiro na minha bolsa e ajudá-lo, mas o medo me impediu. Isso não está certo. Quando cheguei em casa me senti covarde, fraca e desprezível.

O que o mundo virou? Ou sempre foi assim? Vivemos com medo. Medo do assalto, medo da morte, medo do desconhecido.

Todos correndo. Carros indo e vindo. Formigueiro de gente. Todos com pressa,  egoístas, presos em seus pensamentos ‘será que o dinheiro vai dar?’, ‘deixei o fogão aceso?’, ‘por que ele não me ligou?’, ‘preciso ir ao médico’, ‘queria um pão na chapa’, ‘que roupa é essa’?, ‘vou chegar atrasado!’. Será que estão todos cegos? Ninguém mais VÊ o outro. Querem a felicidade. E quem não quer? Mas procuram sempre nos lugares errados. Buscam prazer: dinheiro, baladas, carro novo, drogas, álcool, sexo, comida. Ouvi esses dias que ter prazer não trás felicidade, e percebi que é uma grande verdade, depois do prazer vem o vazio e a vontade de ter prazer de novo para preencher o vazio e dessa maneira ficamos paralisados, em um ciclo sem fim. O prazer é egoísta, a felicidade é altruísta.

E mais um dia divago. E nesse mais um dia, meu único dia, meu principal dia, meu agora, desejo ser melhor, comer menos, fumar menos, observar mais, admirar a beleza, não ter preguiça, não ter medo, ter mais fé, realmente enxergar o outro. E acima de tudo: agir mais.