Mais um dia, mais uma manhã, mais uma
vez sou surpreendida com a beleza de uma música esquecida em minha pasta
de músicas. Meu sorriso se alarga, fico com os olhos fechados, saboreando
e aproveitando cada sensação que a música me proporciona. A beleza nunca
é demais, se renova, quando acha que se acostumou, ela volta e te encanta
novamente.
Ontem estava tentando lembrar
diversos momentos da minha vida e fiquei com o coração partido de perceber que
havia me esquecido de muitos. Fiquei pensando que as pessoas deveriam escrever
diários de suas vidas, porque tenho certeza que ao lerem, depois de alguns
anos, teriam a certeza que viveram poesia.
A vida passa, o dia é hoje. Converso
com Deus. Não tenho controle. As vezes sinto medo, angústia. Em outras vezes
sinto paz e são nesses momentos que me sinto plena e feliz. Leio as notícias do
dia, leio as tragédias, maldades, acidentes, calamidades. Me ponho no lugar das
pessoas e imagino como elas estão se sentindo, meu coração se entristece, mesmo
assim tenho esperança. A vida é acaso. É atravessar uma rua, é pegar o ônibus,
é decidir voltar, é mudar o caminho.
Mas a vida não é só tristeza, no meio
do caos há a esperança, bondade, gente que ajuda, gente que transforma. Tenho
vontade de abraçá-las, protegê-las de qualquer mal que o mundo tenha reservado
para elas. Detesto o sofrimento. Mas mesmo detestando o sofrimento, as vezes me
sinto paralisada diante do sofrimento. O medo as vezes me impede de agir. Vi o
homem, magro, esfomeado, revirando o lixo, a rua estava escura, estava sozinha.
Olhei para ele, espalhando o lixo pelo chão, quis pegar dinheiro na minha bolsa
e ajudá-lo, mas o medo me impediu. Isso não está certo. Quando cheguei em casa
me senti covarde, fraca e desprezível.
O que o mundo virou? Ou sempre foi
assim? Vivemos com medo. Medo do assalto, medo da morte, medo do desconhecido.
Todos correndo. Carros indo e vindo.
Formigueiro de gente. Todos com pressa, egoístas, presos em seus
pensamentos ‘será que o dinheiro vai dar?’, ‘deixei o fogão aceso?’, ‘por que ele
não me ligou?’, ‘preciso ir ao médico’, ‘queria um pão na chapa’, ‘que roupa é
essa’?, ‘vou chegar atrasado!’. Será que estão todos cegos? Ninguém mais VÊ o
outro. Querem a felicidade. E quem não quer? Mas procuram sempre nos lugares
errados. Buscam prazer: dinheiro, baladas, carro novo, drogas, álcool, sexo,
comida. Ouvi esses dias que ter prazer não trás felicidade, e percebi que é uma
grande verdade, depois do prazer vem o vazio e a vontade de ter prazer de novo
para preencher o vazio e dessa maneira ficamos paralisados, em um ciclo sem
fim. O prazer é egoísta, a felicidade é altruísta.
E mais um dia divago. E nesse mais um
dia, meu único dia, meu principal dia, meu agora, desejo ser melhor, comer
menos, fumar menos, observar mais, admirar a beleza, não ter preguiça, não ter
medo, ter mais fé, realmente enxergar o outro. E acima de tudo: agir mais.