Quando ouvimos a música ‘Felicidade’
do Vinícius de Moraes e Tom Jobim, o refrão “tristeza não tem fim, felicidade
sim” penetra em nossas mentes, e fica lá por dias como se fosse um mantra, e isso
vai nos causando um certo desconforto. Ninguém quer ficar triste, fugimos
disso, queremos que a felicidade em nossas vidas seja duradoura, seja eterna.
Conseguimos o emprego dos nossos sonhos? Começamos a namorar com a pessoa que
nos apaixonamos? Compramos o carro do ano? Ficamos muito felizes com essas
conquistas, mas junto com a conquista vem o medo da perda. E assim vivemos
angustiados, nunca nos sentimos em paz. E estamos sempre oscilando entre felicidade
extrema e tristeza.
A verdade é que iremos
sim perder coisas e pessoas importantes na nossa vida. Acontecerão tragédias, perderemos nossos pais, parentes, amigos,
até mesmo filhos, nossa juventude, nossa beleza, nossa saúde, perderemos até
mesmo nossa identidade, pois o que sou agora, não serei mais daqui um tempo. Mudaremos
de emprego, de parceiro, de cidade ou país, por nossa vontade ou não. E como
devemos nos preparar para isso?
Não devemos nos sentir
paralisados, sempre esperando o pior. Precisamos não dar tanto peso às coisas
boas e ruins. Sabendo que a felicidade (do jeito que a entendemos) é fugaz,
devemos buscar o equilíbrio. E o que é o equilíbrio? Equilíbrio é sentir paz.
Paz consigo e paz em relação ao mundo.
Estou lendo um livro
muito bacana chamado “Transforme sua vida” do mestre budista Geshe Kelsang
Gyatso que fala que se nossa mente estiver pacífica, livre de aflições, seremos
plenamente felizes. Uma mente pacífica é uma mente livre de preocupações, medo,
raiva, apego, inveja. Com a mente
pacífica, conseguimos superar os maus momentos da nossa vida, e não veremos os
problemas como problemas e sim como oportunidades de crescimento, e os
aceitaremos com tranquilidade e gratidão, mesmo em momentos difíceis e trágicos. Isso não significa que a dor seja menor, por exemplo, uma mãe que perde um filho, sente uma dor indescritível, e ela sempre terá a dor guardada no seu peito, mesmo depois de anos, mas o que ela fará com sua vida depois da perda é que será ou não uma evolução. Ela terá duas alternativas, ou parar a sua vida e se afundar na tristeza ou seguir em frente e usar a tragédia para beneficiar pessoas, por exemplo, se dedicar aos seus outros filhos ou criar um grupo de apoio para mães que também perderam filhos. Lógico que isso não é fácil, não é uma coisa que se consiga
do dia para noite, muitas vezes é difícil olhar nossas tragédias e problemas com bons
olhos. A vida moderna é naturalmente caótica, corrida, bagunçada. E na grande
maioria das vezes consideramos a paz uma chatice, queremos informação, prazer, balada,
viagem, conversa, desafio, movimento, porém estamos sempre sofrendo, correndo
contra o tempo, nos sentindo vítimas, estamos sempre irritados, angustiados,
queremos muito algo, logo depois não queremos mais, nos entediamos com frequência,
queremos soluções rápidas, nos entupimos de drogas: para dormir, para sorrir,
para se exercitar, para acordar, para anestesiar.
Porém é importante entendermos
que o caos não é o melhor para gente, necessitamos de silêncio para
encontrarmos a paz. A meditação é uma excelente maneira de encontrar a paz, no
começo é difícil, o corpo reluta, os pensamentos lotam e perturbam a mente, mas
quando se consegue esvaziá-la, mesmo que por um só minuto, é gratificante, e
conseguimos entender a importância da paz. E quando nos sentindo em paz,
conseguimos ser mais tolerantes, pacientes, amorosos e bondosos. Conseguimos nos
colocar no lugar do outro e inclusive amá-lo com todos os seus defeitos, sem
esperar nada em troca. É um exercício diário, porém chega um momento que
percebemos que a paz e a bondade nos garantem a felicidade plena. Lógico que
ser bom, não significa ser bobo, deixar as pessoas serem injustas ou se
aproveitarem da sua bondade, significa resolver as situações com serenidade,
praticar a justiça sem agressividade, tentar entender os motivos da outra
pessoa.
Esses dias mesmo, o sinal ficou
vermelho para os carros, e lá fui eu atravessar a rua, e tinha um motoqueiro
que ao me ver atravessando, começou a acelerar a moto, lógico que me assustei,
dei um salto ridículo, tropecei e quase caí no meio da rua e ele rolou de rir.
Pensei: “Mas que espírito de porco!” e fiquei com vontade de mandá-lo para
aquele lugar, logo em seguida me coloquei no lugar dele, e pensei que não sabia
nada sobre ele, como é a vida dele, como ele foi educado, não sei o que ele
sofreu. Ele também quer ser feliz e provavelmente está procurando a felicidade
nos lugares errados, pode ser até mesmo que para ele a felicidade está em me
ver tropeçar e cair de cara no asfalto. Então mandei um pensamento para ele: “Que
você encontre a felicidade verdadeira e duradoura”. Senti um alívio, talvez se
tivesse mandado ele para aquele lugar tivesse me dado um alívio imediato, mas
tenho certeza que ficaria o dia todo incomodada. Então decidi não levar aquilo
comigo. Foi bom, me senti feliz. Sei que terão dias que não conseguirei me
controlar e chutarei o pau da barraca, mandarei alguém que me incomodou para aquele lugar e
sairei pisando duro. O processo de evolução é lento, só não podemos desistir,
nem nos cobrar demais. O importante é a busca contínua pela paz e bondade, dia
após dia, tenho certeza que o esforço valerá a pena.
E o que desejo hoje para
você? Que encontre a felicidade verdadeira e duradoura!